Dead Man - Homem Morto (1995) - RARÍSSIMO !! - Reliquias em DVDs
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Dead Man - Homem Morto (1995) - RARÍSSIMO !!

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 A jornada física e espiritual de William Blake, homem que passa por situações tragicômicas no Velho Oeste após acidentalmente matar filho de figurão. Ferido, ele recebe a ajuda do estranho índio Nobody, que acredita ser ele o poeta homônimo do século 19.

 

CRÍTICA

Jornada para a Morte

Fascinante pérola existencialista dos anos 90, injustamente subvalorizada e esquecida. Jim Jarmuschcelebra em Dead Man a revisitação do género querido do cinema clássico americano: o Western. Só que em vez de se contentar com a transposição dos códigos narrativos inatos a esse género e com o mero decalque da sua simplista atitude formal, Jarmusch reinventa-o e apresenta-nos um Western pós-moderno absorto numa metafísica arrebatadora, em simbologias desconcertantes e num acérrimo desencanto filosófico .

Filmado num belíssimo preto e branco (da responsabilidade de Robert Müller), Dead Man relata o árduo percurso físico, emocional e espiritual do jovem William Blake que, na segunda metade do século XIX, se dirige para a cidade de Machine em busca de um emprego como contabilista numa muito conhecida fábrica metalúrgica. Uma vez lá chegado, é maltratado pelo director daquela empresa familiar e posto na rua sem qualquer tipo de decoro. Ao errar pela pequena cidade "doentia", Blake trava conhecimento com uma afável ex-prostituta, com quem acaba por passar a noite. Mas o ex-amante da rapariga aparece e, num acesso de fúria, dispara mortalmente sobre ela, acabando por ferir também Blake. Este reage, abate o homem e foge sem destino. Às portas da morte e contando apenas com a ajuda de um índio (que alerta o contabilista para o facto de partilhar o nome com o famoso poeta visionário), Blake fica a saber que o homem que matou é o filho do empresário que o rejeitou, e que este mandou três assassinos no seu encalço...

Dead Man é uma galvanizante parábola sobre a Morte e uma carta de pessimismo em relação ao Homem e às suas acções inconsequentes. O filme tem um argumento tão rico que permite as mais estimulantes leituras: pode ser visto como o salutar encontro de um homem com a sua espiritualidade, a necessidade de fugir de contextos conspurcados (neste caso, a cidade) e alcançar a transcendência individual num qualquer lugar mais "puro", o agarrar a vida mesmo quando esta teima em nos escapar, ... Esta complexidade de interpretações torna Dead Man num objecto lírico irrepreensível, que foge aos lugares-comuns quer do cinema de massas, quer do dito cinema independente (que também os tem, é preciso dizer). Jim Jarmusch consegue aqui uma fita de inegável beleza etérea que encerra um paradoxo algo redundante, mas intenso: é no processo da morte certa que Blake saboreia como nunca a vida que lhe passou ao lado.

A composição musical de Neil Young é um pouco questionável, mas a verdade é que ajuda a acentuar o clima de estranheza veiculado pelo filme e confere-lhe uma identidade muito própria. Dead Man pode não ser consensual, mas quando alcança o nosso âmago, torna-se automaticamente uma referência do bom cinemaarty dos anos 90.

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