Triângulo da Tristeza - Reliquias em DVDs
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Triângulo da Tristeza

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Sinopse: Um casal de modelos ganham passagens para embarcar num cruzeiro de luxo cujos tripulantes são superricos. Tudo ía bem quando um trágico imprevisto acontece e, a partir daí, alguns passageiros e tripulantes deverão sobreviver em uma nova conjuntura.

LEGENDADO


A OBSERVAÇÃO DO EMBARAÇO EM ORGANIZAÇÕES SOCIAIS DISTINTAS


Se há um jovem diretor que se destaca fortemente no meio cinematográfico, esse é Ruben Östlund. Um sueco que ainda nem chegou aos 50 anos e, em 2022, conquistou pela segunda vez o prêmio mais importante que a indústria do cinema concede, a Palma de Ouro no Festival de Cannes. “Triângulo da tristeza” é um filme de confirmação de um estilo bastante autoral do diretor: um humor negro inteligente e sarcástico que traz à tona temáticas ácidas, às vezes subjetivas e controversas, e que são exibidas com muita ironia e até com um certo exagero através de personagens caricatos e bem definidos, levando inevitavelmente à reflexão do público que tem o prazer de assistir a suas obras, pois é realmente uma jornada gratificante adentrar na especial filmografia de Östlund. Se “The square“, a primeira Palma de Ouro do cineasta, já causou um reboliço, tenham a certeza de que “Triângulo da tristeza” segue o mesmo caminho, mas julgo que com menos perspicácia, pela aplicação de doses menores de abstração, pois se trata de um filme mais acessível e que requer menor interpretação para uma boa inteligibilidade.

 

A principal temática de “Triângulo da tristeza” é o que eu chamo de “hipocrisia da igualdade”, com ramificações para diversas outras subtemáticas: o poder, o capitalismo, a futilidade, a sobrevivência, etc. Como sugere o estilo do diretor, temos personagens cujas características são potencializadas para enfatizar bem seus interiores e pretensões dentro da narrativa, assim como faziam os diretores italianos na época das comédias all’italianas das décadas de 70 e 80 do século passado, por exemplo.

O filme é dividido em 3 capítulos bem definidos.

O primeiro, chamado de “YAYA E CARL”, apresenta dois personagens importantes que se encontram imersos no mundo endinheirado e inundado de futilidades e hipocrisia da moda, e promovem o desenvolvimento de uma “alegoria sobre o dinheiro” para já ir direcionando a narrativa ao encontro de seus objetivos. A ingresia causada pelo pagamento de uma conta durante um jantar romântico do casal é bastante pertinente e é a cena que mais se destaca neste bloco.

O segundo capítulo, chamado de “O IATE”, transcorre num cruzeiro de luxo repleto de ricaços russos e de outras nacionalidades, alem de Yaya e Carl. Neste ponto, aquela famosa “luta de classes” que já vimos tanto ser abordada pelo cinema toma corpo, através da interação frenética entre personagens numa viagem imprevisível quanto a seu desfecho pela conjuntura que vai aos poucos se construíndo. Östlund começa então a abordar com maior ênfase a igualdade, que é hipocritamente e explicitamente “incentivada” num desfile no primeiro bloco, principalmente através da “comédia do constrangimento”, quando não é raro o espectador sentir vergonha do que está assistindo; mas também de algumas cenas que podem ser classificadas como “escatológicas” e bastante excessivas. Nesse bloco, há vários personagens de destaque: os milionários russos, principalmente Dimitry (vulgo “O Rei da Merda”); Thomas, o capitão do navio; o casal de idosos ingleses, composto por megaempresários da indústria armamentícia e cujos destinos caracterizam a mais pertinente ironia do filme; a deficiente holandesa; alguns outros componentes da tripulação do navio, etc. Duas cenas devem ser salientadas, pois, perfeitamente, podem figurar entre as melhores do ano de 2022: a cena do “Jantar do Capitão” e “a discussão filosófica e etílica entre o Capitão americano socialista e o russo capitalista”. São cenas fabulosas!

 

O terceiro capítulo, chamado de “A ILHA”, transcorre numa ilha deserta onde os personagens necessitam sobreviver. Nesse contexto, o dinheiro e as posses não mais importam e têm maiores chances de sobrevivência aqueles que possuem habilidades e adquiriram a resiliência provida pela vida de dificuldades, ou seja, os oprimidos e os ricos de outrora invertem suas posições na nova configuração da pirâmide social que se forma naquele microscosmo específico, com sua classificação clássica modificada, pois agora quem sabe pescar, quem sabe fazer uma fogueira, quem sabe caçar, etc., está no topo e dá as cartas (e as ordens). Assim, uma personagem que mal apareceu durante os dois capítulos anteriores prontamente se destaca: Abigail, que era gerente de toalete do iate. Neste ponto, o filme começa a traçar uma “alegoria sobre o poder”, aquele poder que seduz, que vicia e pelo qual as pessoas cometem até atos impensados e irresponsáveis para a manutenção de seu status quo. Esse terceiro bloco narrativo continua com sua pegada constrangedora e reserva muitas surpresas até o ato final, que muitos andam dizendo que é vago, que é aberto, no sentido de caracterizar negativamente o filme, mas, no meu entender, promove um fechamento de ouro, pois ata as pontas lançadas durante o bloco sobre a temática aludida, o poder.

Ao fim, só restam elogios a mais esse grande filme de Ruben Östlund. Em uma filmografia de apenas 6 longas, mais um filmaço. É provocativo, é sarcástico, é satírico, é sagaz, é irônico, talvez divisivo em relação às opiniões e avaliações, e é inegavelmente muito divertido. Que ótimo diretor e que obra fantástica! Palma de Ouro mais do que merecida! Um dos meus favoritos do ano de 2022. Ainda não entendo porque a Suécia não o escolheu como sua submissão à disputa pelo Oscar de Melhor Filme Internacional em 2023, pois, dada a concorrência que se observa através da avaliação das submissões dos outros países, “Triângulo da tristeza” poderia perfeitamente repetir o feito de “Parasita” (2019), conquistando o maior festival artístico do cinema (Cannes) e o maior festival midiático do cinema (Oscar), repetindo, inclusive, o que de mais marcante possui o filme coreano aludido: o desenvolvimento inteligente de uma luta de classes – uma temática universal.

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