Opera / Terror at the Opera
1987 / Itália / 107 min / Direção: Dario Argento / Roteiro: Dario Argento, Franco Ferrini /Produção: Dario Argento; Mario Cecchi Gori, Vittorio Cecchi Gori (Coprodutores); Ferdinando Caputo (Produtor Executivo) / Elenco: Cristina Marsillach, Ian Charleson, Urbano Barberini, Daria Nicolodi, Coralina Cataldi-Tassoni, Antonella Vitale
legendado
Assistir a um filme de Dario Argento é assistir a todos os filmes de Dario Argento, e Terror na Ópera é a prova cabal disso, quer você goste ou não. E mais, essa volta ao giallo que o consagrou com sua trilogia dos animais e Prelúdio Para Matar, é uma espécie de compêndio de todos os elementos cinematográficos do diretor italiano nas duas décadas anteriores e considerados por muitos como seu último grande trabalho.
Argento em seu projeto mais ambicioso e de maior orçamento (que acabou se mostrando um fracasso retumbante de público e crítica) mais uma vez coloca acima de tudo sua busca pela estética perfeita, abusando de ângulos inusitados, cortes abruptos, travelling ousados, câmera subjetiva emulando a visão de assassino, testemunha e até corvos, colocando o espectador quase que sempre no primeiro plano das ações.
Em contrapartida, Terror na Ópera derrapa, e feio, no roteiro (que convenhamos, nunca foi muito a preocupação do diretor), com aquela mesma ladainha gialli que estamos carecas de ver em praticamente todas as produções do gênero, com seus whodunit à la Edgar Wallace, furos inexplicáveis no roteiro, situações pra lá de inverossímeis e um daqueles finais rocambolescos (que obviamente envolve sexismo e trauma de infância) onde se você prestar o mínimo de atenção já sabe quem é o assassino na primeira vez que ele aparece na película. Isso sem mencionar a sempre péssima direção de atores características.
Então talvez esse seja o maior bode de Terror na Ópera. Faz lá mais de dez anos que Suspira fora lançado e desde então, por mais que seja absolutamente do caralho a forma com que Argento conduza suas obras do ponto de vista artesão de se fazer cinema impecável, o uso pontual de trilha sonora (mecânica, efeitos sonoros e a estrambólica mistura de música clássica, rock progressivo e heavy metal) e a sempre exagerada ultraviolência que atinge o limite do impressionável e aflitivo aqui, simplesmente você não consegue manter um linha de interesse (e de raciocínio) em todo o longa que não seja essas imagens e sequências maravilhosas esparsas.
Escrito por Argento e Franco Ferrini, uma jovem soprano, Betty (Cristina Marsillach, considerada pelo cineasta a atriz mais problemática com quem já trabalhou) é escolhida para atuar na ópera Macbeth de Verdi no lugar de uma grande atriz que se machucou (colocada na conta de uma espécie de maldição ao redor da obra), dirigida de forma inusitada e inovadora por um conhecido diretor de filmes de terror, Marco (Ian Charleson), inspirado no próprio Argento. A ópera conta com efeitos especiais grandiosos e uma revoada de corvos que vira e mexe são colocados em cena. Só que um assassino psicopata maníaco pervertido vestido de luva preta de couro (sempre) e máscara começa a perseguir Betty e matar impiedosamente membros da produção (e corvos, informação muito importante uma vez que eles serão responsáveis pela descoberta da identidade do assassino, já que segundo os roteiristas, eles são criaturas vingativas e nunca se esquecem de quem lhes fizera mal).
E por falar em “matar impiedosamente”, esse definitivamente é o ponto alto da película para os fãs do Argento, onde somos agraciados com brutalidade sangrenta ímpar. E não é só isso, o sadismo do assassino da vez extrapola qualquer outro vilão do giallo italiano, e olha que já vimos todo tipo de perversão. O psicopata simplesmente amarra Betty e coloca esparadrapo com agulhas em suas pálpebras para que ela não possa fechar seus olhos e assista impassível todas as mortes aterradoras de suas vítimas. Então dá-lhe facadas, tesouradas e por aí vai. Outra cena não menos que fantástica é quando a personagem de Daria Nicolodi (já ex-mulher de Argento nessa altura do campeonato) está olhando pelo buraco da fechadura e toma um tiro no olho em câmera lenta.