Lício Velloso e os cuidados com a obesidade A Pró-reitoria de Graduação (PRG)da Unicamp organizou, no início da tarde desta quarta-feira, no Projeto “Aulas Magistrais”, uma palestra do professor Lício Augusto Velloso, pesquisador que atua há quase 20 anos investigando mecanismos moleculares e celulares que participam da gênese de doenças metabólicas como obesidade e diabetes. O encontro com o docente, que pertence ao Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), ocorreu na sala CB-06 do Ciclo Básico I. Ao público, composto por estudantes, funcionários e interessados no assunto, ele falou sobre "Obesidade em 3 atos". Do “Aulas Magistrais”, projeto em que, periodicamente, docentes e pesquisadores da Unicamp são convidados pela PRG a falar sobre pontos importantes de suas pesquisas ou pensamentos, já participaram os professores Alcir Pécora, Sidney Chalhoub, Yaro Burian Júnior, Miguel Arcanjo Áreas, Alberto Saa e Sérgio Leite. As palestras do Projeto são gravadas em vídeo e depois disponibilizadas no site na PRG, no link. Acompanhe a entrevista que Velloso concedeu ao Portal Unicamp antes de sua palestra: Portal Unicamp - Quais seriam os mais importantes conceitos, acumulados durante as últimas décadas, a respeito dos mecanismos envolvidos com o desenvolvimento da obesidade? Lício Velloso - Primeiro e mais importante foi o fato de se entender definitivamente que a obesidade é uma doença e que seu desenvolvimento nas pessoas não decorre de uma falta de compromisso com a saúde própria, de um descaso. A obesidade se desenvolve independente da vontade do indivíduo. Em segundo lugar definiu-se o cérebro, mais especificamente o hipotálamo como a região do nosso corpo mais envolvida com o desenvolvimento da doença. Entendemos hoje que há uma perda progressiva da função de neurônios do hipotálamo e que isso repercute numa perda da capacidade de controlar a fome e o gasto energético. Há perspectivas futuras para prevenção e tratamento da doença? Velloso - Temos que encontrar bons alvos para o desenvolvimento de fármacos. Está claro hoje que somente a terapia comportamental (dieta e atividade física) é insuficiente para controlar a doença. Realmente precisaremos desenvolver medicamentos. Mas para isto temos que conhecer melhor os mecanismos moleculares e celulares da doença. O estado da arte na pesquisa em obesidade indica que o hipotálamo se torna lesado em decorrência de um processo inflamatório induzido por alguns tipos de dieta (principalmente ricas em gorduras saturadas). Assim, nos próximos anos procuraremos por meios para controlar esta inflamação. A terapia de células-tronco pode ser um caminho para reverter o desenvolvimento da obesidade? Velloso - Se, de fato há perda de neurônios do hipotálamo, como ocorre em outras doenças neurológicas como Alzheimer e Parkinson, então, sim, acredito que haverá espaço para se discutir terapia por células-tronco. Porém, em obesidade, nosso conhecimento atual da doença é consideravelmente menor que os conhecimentos que temos das duas outras doenças acima. Assim, creio que ainda seja prematuro pensar em célula-tronco nesta doença. A obesidade É uma das doenças mais prevalentes da atualidade. Mais de 300 milhões de pessoas são hoje obesas no mundo. As projeções sugerem um aumento para 1 bilhão até o ano de 2030. Além das claras repercussões sociais e psicológicas, a obesidade é um importante fator de risco para várias outras doenças como diabetes, hipertensão arterial, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e alguns tipos de câncer, entre outras. As mudanças comportamentais e alimentares introduzidas durante a década de 1950, agindo sobre alguns determinantes genéticos, constituem-se nos principais mecanismos responsáveis pelo rápido aumento do número de obesos, e, até o momento, nenhum avanço terapêutico tem sido capaz de conter ou reverter este cenário. Lício Velloso Graduado em medicina pela FCM-Unicamp, também é PhD pela Universidade de Uppsala (Suécia). Realizou pós-doutorados em Medicina na Unicamp, e em Harvard, sob a supervisão dos professores Mário Saad e Ron Kahn, respectivamente. Coordenou estudos que mostraram, pela primeira vez, que durante o desenvolvimento da obesidade, a região do cérebro que controla fome e o gasto energético, o hipotálamo, se torna danificado como consequência de um processo inflamatório induzido por fatores alimentares e genéticos.
Últimos Visualizados
- Ver Detalhes
- Obesidade em 3 Atos R$19,99