"Lake Mungo" (2008) é um falso documentário que relata a dor e as incertezas de uma família ao perder a filha afogada. De convencional não tem absolutamente nada, não é totalmente terror, mas gera uma grande tensão sobre o que se está vendo, muitas dúvidas acerca do ocorrido. Na verdade mais que um documentário que especula o sobrenatural é um drama cheio de dor e revelações. Alice Palmer, uma jovem de dezesseis anos, afoga-se enquanto nada na barragem local. Quando o corpo é recuperado é atribuído o veredito de morte acidental. A família começa então a experimentar uma série de eventos estranhos e inexplicáveis centrados na sua casa e áreas envolventes. Profundamente inquietados, os Palmer procuram a ajuda de um parapsicólogo, Ray Kemeney. Uma série de pistas leva a família ao Lago Mungo onde o passado secreto de Alice emerge.
O filme segue com depoimentos dos familiares sobre o dia fatídico, os amigos dizem a respeito de como era a personalidade de Alice, perguntas surgem e então coisas estranhas acontecem na casa. Matthew, o irmão de Alice, começa a se interessar por fotografia, uma forma de passar o tempo. A família sente muito fortemente a presença da garota na casa, os lugares que ela costumava ficar, e em um dado momento o pai chega a dizer que a viu entrar em seu quarto. Matthew ao revelar as fotografias percebe algumas coisas estranhas, de início uns borrões, mas a silhueta de Alice vai ficando bem visível, intrigados todos da casa concordam em colocar câmeras para tentar captar esta presença que sentem constantemente. O sobrenatural aparece não em forma de sustos, mas naturalmente, como se fosse realmente algo comum. As aparições são tantas que os pais acreditam que Alice continua viva e até pedem para exumar o corpo para terem certeza se era o da garota. Depois da confirmação os pais se sentem mais aliviados, porém continuam sentindo coisas estranhas na casa, então recorrem a um médium muito conhecido.
Quando alguém muito próximo morre, principalmente quem está sempre ao lado, claro que é comum sentir a presença na casa, ainda mais quando as pessoas guardam objetos e roupas, o sentimento de presença é muito forte, mas com o passar do tempo nossa mente vai se habituando a uma nova vida. Algumas pessoas têm mais dificuldades em lidar com o luto e acabam se apegando a qualquer coisa, Matthew fez isso utilizando a fotografia, manipulou todas as fotos, mas isso chega até ser compreensível, pois a dor de perder alguém é imensurável, cria-se um tipo de necessidade no querer acreditar em coisas que vão além da nossa percepção. Dá um certo alento crer que há algo depois da morte. Só que mesmo com a confissão do garoto, eles continuam com as câmeras nos cômodos, e o que descobrem a seguir não é mais sobrenatural, e sim uma pessoa real que está no quarto de Alice e parece estar procurando alguma coisa. Então, segredos vem à tona e a imagem de Alice, a garotinha perfeita, se desfaz, eles encontram uma fita que obtém um segredo que era só dela, e que nem os amigos sabiam. A partir desse fato os pais vão a fundo e tentam desvendar o que estava acontecendo com a filha; encontram seu diário, descobrem que aconteceu algo na viagem que ela fez com os amigos e imagens de celular revelam que Alice escondeu pertences perto de uma árvore. Muitas dúvidas surgem para os pais, dessa forma decidem ir atrás de respostas, viajam até o local e percebem que Alice não estava bem, ela estava tendo sonhos estranhos e pensamentos mórbidos. Não há uma conclusão exata, mas as cenas finais são muito interessantes e obscuras.
O Mockumentary não segue os moldes conhecidos, ele claramente parece real, sem dúvidas um dos melhores que vi neste estilo, há muitas reviravoltas e surpreendentes revelações. Serve tanto para quem deseja ver algo diferente no estilo terror, quanto ao drama que é bem forte e retrata perfeitamente a dor e as incertezas sobre a morte. Cada um absorve de uma maneira, alguns podem achar tenebroso pelo lado sobrenatural, outros se apegam mais ao drama que impressiona.
O que fica martelando é o fato de que não conhecemos profundamente quem está perto de nós, todos têm segredos que só guardam para si mesmos. Alice não estava mais ali para se defender ou explicar, a família teve que seguir em frente e reconstruir a vida. "Lake Mungo" vale muito a pena, convence e envolve até o último minuto.