O Pecado de Hadewijch (2009) - Reliquias em DVDs
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O Pecado de Hadewijch (2009)

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Céline (Julie Sokolowski), estudante de teologia, adota o nome de Hadewijch, místico do século XIII do Brabant, no norte da França. Chocada com a fé cega e estática da moça, a madre superiora (Brigitte Mayeux-Clerget) a envia para fora do convento, no intuito de que encontre sua vocação no mundo. Ela então volta a ser uma menina comum, filha de um ministro francês. Um dia conhece Yassine (Yassine Salime), africano do subúrbio, que a apresenta ao seu irmão Nassir (Karl Safaradis), muçulmano praticante e professor de religião. O amor de Céline por Deus, assim como sua raiva e seu desejo de entregar-se ao sacrifício, a lançam num caminho perigoso

CRITICA 

Ao dirigir uma jovem sem intimidades com a câmera em um filme sobre a fé perniciosa, Bruno Dumont lança luz sobre o seu cinema. O silêncio de Deus que provoca dor aguda na protagonista, cujo nome como noviça é o mesmo da mística do século XIII Hadewijch de Antuérpia, aguça a memória do espectador e o filme “Luz de Inverno” ressurge, um dos notáveis componentes da Trilogia do Silêncio do gênio Ingmar Bergman.

Na escuridão da fé
Escassez de palavras e abundância de emoções. O francês Bruno Dumont dirige “O Pecado de Hadewijch” (2009), um filme complexo em sua simplicidade, onde a inexperiente protagonista melhor comunica-se através do silêncio. Amar Cristo acima de todas as coisas equivale ao sofrimento absoluto, sentimento que se adensa nas imagens geradas pelo diretor. O espectador é convidado a analisar uma alma consternada e um corpo mortificado. Hadewijch é a humana condenada a amar Deus, interpretada por Julie Sokolowski, que representou fazendo uso da expressão, livre da tarefa de decorar textos prolixos. Ex-trabalhadora comum na realidade, o futuro de Julie no cinema mesmo após os aplausos da crítica é incerto. Primeiramente a câmera filma Hadewijch no meio da natureza. Temporariamente protegida do frio que pune seu corpo, a asceta reza no interior do convento, quer estabelecer contato com o amor, e nós ficamos apenas com seu sussurro sincero. A primeira palavra clara surge aproximadamente aos cinco minutos e a mesma não sai da boca de Hadewijch, que apenas ouve negando-se a matar sua fome com a sagrada refeição. Um homem misterioso está trabalhando no convento, distante, ele observa a moça casta com atenção, sua presença não é destacada pela câmera por acaso. O comportamento da noviça desprovida de amor próprio é desaprovado pelas suas superioras. A sabedoria diz que não é necessário isolar-se do mundo para aproximar-se de Deus. A decisão está tomada ― Hadewijch precisa abandonar o convento, ser lançada às contingências da vida para poder provar seu amor pelo Criador.  “Caricatura de religiosa” é um epíteto pungente empregado para classificar a jovem que sabe bem por qual motivo está viva. Desolada após ser ordenada a voltar ao mundo que quer evitar, ela faz o mesmo caminho do início e chora diante do seu Salvador, compartilhando seu sofrimento com a indiferença.
Hadewijch passa pelos portões do convento para participar do mundo enquanto o referido misterioso entra em uma viatura da polícia para ser retirado dele. Fora do convento, a jovem é Céline, moça deslocada filha de um potentado ministro e de uma mulher sem a ínfima vontade de viver. A enorme e suntuosa residência da família é fria, sombriamente vazia; inóspita para dizer de modo sucinto. O amor de Céline pelo invisível não é apenas uma simples aptidão, é também algo que permite sua fuga de uma realidade sufocante. Entregue à imprevisibilidade da vida, Céline conhece Yassine (Yassine Salime), um jovem muçulmano, em um dia comum. Na noite de Paris, agitado com o som de uma banda excêntrica, Yassine tenta beijar Céline, a moça que balança seu corpo sem alegria, sem sentir a vibração, perdida em um lugar desconhecido. Mesmo após a rejeição, Yassine consegue o telefone da parisiense enigmática e uma relação incomum terá o seu início.
Com Yassine, Céline é capaz de rir, ainda que muito comedidamente, em um ato de transgressão; o pecado é leve, o ato de errar é quase inconsciente e o enfraquecido prazer de viver é suavemente sentido. Jovens na idade da atividade sexual, da intensa curiosidade. Céline é obrigada a declarar que quer manter a virgindade. O Islamismo é posto em enfoque, audácia admirável de Bruno Dumont. Nassir (Karl Sarafidis), o irmão de Yassine, é um assíduo seguidor da religião muçulmana que começa a transmitir seus conhecimentos à curiosa Céline. Ser olhada por um homem de carne e osso que deseja provoca a sensação de asco na jovem. Ela sente falta do corpo de Cristo, como um humano necessita de outro; a triste ausência é mais poderosa que sua grande devoção. A obsessão desmedida faz com que Céline veja luminescência na crença dos amigos muçulmanos. Violência gera violência, famosa frase reiterada por Nassir, ao falar com exaltação sobre as ações políticas do Islamismo. Vivemos em uma Terra de culpados, de acordo com suas palavras, todos nós somos responsáveis pela humilhação que assola um grande número de pessoas. Nassir e Céline estão diante do convento, chega o momento do desprendimento ― seus rostos são intensamente alumiados quando Céline decide que está pronta para ser um soldado de Deus, gradativamente a imagem volta ao normal, não há mais nada para se fazer naquele local.
Céline envolve-se completamente, ela acredita que está sendo guiada pela luz de Deus à ação que está prestes a realizar por amor. Sua declaração é admirada pelos seus irmãos muçulmanos. Da ação Islâmica à chuva purificadora que desaba sobre o convento. Céline é novamente Hadewijch, novamente tiritando de frio. O homem misterioso está de volta ao mundo. A ausência é insuportável, Céline está cansada de perseguir o inalcançável e termina o que acha ser seu último desabafo. No comovente desenlace, um ser humano errante traz a vida à tona, torna-se o salvador. Um choro diferente, Céline agarra o concreto, sente o calor propagado pela vida. O conjunto de imagens do final é um dos mais belos do cinema atual. “O Pecado de Hadewijch” é uma daquelas maravilhas que perduram no íntimo, concedendo a nós, seres ávidos por conhecimento, a oportunidade de refletir sobre um assunto de incalculável amplitude.
“Sou um cineasta, não um juiz. Quero entender meus personagens para entender o mundo, não julgá-los.” ― Explicação concisa do diretor sobre o terrorismo não criticado em seu filme. 

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