Ilsa: She Wolf of the SS
1975 / EUA, Alemanha Ocidental / 96 min / Direção: Don Edmonds / Roteiro: Jonah Royston / Produção: David F. Friedman / Elenco: Dyanne Thorne, Gregory Knoph, Tony Mumolo, Maria Marx, Nicolle Riddell, Jo Jo Deville
Ilsa, a Guardiã Perversa da SS é a pedra angular do cinema nazixploitation. Sim, os anos 70 foram terrenos férteis de filmes como o sufixo “exploitation”. O nazixploitation, como o próprio nome já diz, foi aquele gênero que trazia nazistas vilanescos até a espinha, cometendo atos criminosos e sexuais em prisioneiros nos campos de concentração, geralmente mulheres (uma espécie de ramificação do gênero “women in prison”) repleto de tortura, sadismo, gore, bizarrices e depravação.
UOU!!!! Só esse parágrafo já dá vontade de assistir a Ilsa, a Guardiã Perversa da SS, não? Se é que você não é um puritano, o que acho que não, caso contrário não estaria lendo este post. Enfim, Ilsa… foi um daqueles divisores de água, que produzido por David F. Friedman (sob o pseudônimo de Herman Traeger), figurinha carimbada do cinema B, que tem em seu currículo, por exemplo, a Trilogia de Sangue e H.G. Lewis, inspirado pelo filme Love Camp 7(no qual fez uma ponta), decidiu produzir essa fita, mal ele sabendo que daria início a uma série de filmes com a mesma temática, principalmente vindos da Itália, que se tornariam sucessos nas grindhouses da vida.
A MILF deliciosíssima de seios voluptuosos, Dyanne Thorne, vive Ilsa, a comandante impiedosa e cruel de um campo de concentração nazista durante a II Guerra Mundial, ruim que o diabo e com um apetite sexual incontrolável (brevemente inspirada em Ilse Koch, a “Bruxa de Butchenwald”, esposa do comandante do campo de concentração de Buchenwald, conhecida por ter desvios sexuais com os prisioneiros e rumores diziam que tinha abajures feitos de pele humana, credo). Usando as prisioneiras como cobaias de seu posto médico para elucidar sua teoria de que as mulheres são mais resistentes a dor que os homens, Ilsa não medirá esforços para subir na escala hierárquica da SS, e isso significa fazer todo tipo de experiência recheada de sadismo e barbárie, coisas que estamos acostumados a saber que os nazistas realmente faziam em suas pesquisas de eugenia (o filme mesmo alerta no começo que a ideia dos produtores é mostrar os absurdos acontecidos nos campos de concentração e alertar aos espectadores para que aquelas coisas horrendas nunca mais se repitam na história da humanidade).
Assim como também não medirá esforço para atingir o prazer sexual máximo. Ninfomaníaca incontrolável, Ilsa leva os prisioneiros homens para sua cama, e ai daquele que não conseguir satisfazer a loba no cio e ejacular precocemente. Ele será sumariamente castrado na manhã seguinte. Só que a coisa muda de figura quando o americano Wolfe (Gregory Knoph), prisioneiro de guerra, é levado ao campo e torna-se o amante de Ilsa, pois ele possui uma peculiar particularidade: tem total controle sobre sua ereção e pode ficar com o membro em riste durante a noite toda, se desejar. Engraçadíssimo é ele se lamentando com o colega de cela, Mario (Tony Mumolo), que se acha uma aberração por ter esse dote, talvez para que nós, reles mortais que assistam ao filme, não nos sintamos rebaixados pelo poder masculino do rapaz.
Enfim, Wolfe será a única solução para todos os prisioneiros sobreviverem àquele inferno e começar uma insurreição para fugir do local. O diretor Don Edmons usa e abusa da erotização da violência, das cenas de tortura, horror gráfico e sangreira desmedida (que foram dos grandes motivos do filme ser considerado um daqueles polêmicos e controversos) e tenta tirar o espectador da zona de conforto do seu sofá e escancarar a brutalidade e maldade humana. Mas isso não impede que algumas cenas sejam de humor negro, expondo o nazismo e seus trejeitos ao ridículo, com aquela aura e estética de filme pornô setentista, pencas e pencas de seios de fora e pelos pubianos de todas as cores (tem loiro, moreno, ruivo) e tamanhos e algumas situações verdadeiramente absurdas.
E pode colocar nessa conta algumas das técnicas de tortura utilizadas. Enquanto algumas são realmente grosseiras e chocantes, como um casal sendo chicoteado até a morte, uma garota dentro de uma câmara de pressão para simular testes para a Lutwaffe, outra banhada em uma banheira de água a 48ºC (que Ilsa manda aumentar mais 5ºC), testes de hipotermina (todos esses são assustadoramente baseados em fatos reais), lacerações, mutilações, espancamentos, deformidades causada pela sífilis, vermes portadores de tifo que infectam feridas gangrenadas, tudo em nome de provar a tese das mulheres suportarem mais a dor, algumas são propositalmente apelativas, como um vibrador de 13 polegadas que desfere choques na vagina da coitadinha pega para Cristo. E não é aquele choquinho estimulante não.
Claro que todos os soldados (dos guardinhas até os de mais alta patente) e todos os médicos são caricatos, naquele melhor molde nazista exagerado ou cientista louco alemão que estamos acostumados a ver no cinema. O maior de todos, sem dúvida é o General (Richard Kennedy), que vai até o campo condecorar a Kommandant por suas pesquisas e que sozinho no quarto com a gostosona, quer que ela dê uma bela jorrada de chuva dourada nele, se é que você me entende. Isso sem contar os soldados beberrões, estupradores e covardes e as capangas de Ilsa, cheias de luxúria e desejo carnal, ora com seus uniformes militares, ora como vieram ao mundo.
Obviamente, a exibição do filme foi rejeitada, não uma, mas duas vezes, nos cinemas britânicos, levando o famoso certificado da BBFC, entrando na sua também famosa lista dosnasty videos. Mas foi um hit nos drive-ins e grindhouse e claro, tornou-se um ícone trashcultuado. O trailer falso “Werewolf Women of the SS”, parte de Grindhouse, de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez, dirigido por Rob Zombie, foi largamente inspirado em Ilsa, a Guardiã Perversa da SS. Dyanne Thorne ainda viveria uma variação da personagem nazista em outros dois filmes futuros, sempre com a temática parecida e muito sexo e nudez: Ilsa, Harem Keeper of the Oil Sheiks de 1976 e Ilsa, The Tigress of Siberia em 1977.
Ilsa, a Guardiã Perversa da SS não é para os fracotes e impressionáveis. É um filme grosseiro, brutal, que fere e muito a moral e os bons costumes. Sangue e nudez a rodo. Mas todo mundo sabe dos horrores dos campos de concentração. Apesar da ficção contida no filme, do humor negro e dos trejeitos escancaradamente camp, vale como reflexão de que muito do que se passa ali, apesar de estilizado, realmente aconteceu nas prisões nazistas, e isso sim, de verdade é doentio, e não um filme de cinema.