Provavelmente o primeiro filme mainstream americano a lidar com o polêmico tema dos snuff movies,Hardcore – No Submundo do Sexo, de Paul Schrader, guarda muitas semelhanças com o posterior8mm (1999), de Joel Schumacher. Ambos tratam de uma investigação pelo submundo pornográfico de Los Angeles na busca por uma garota morta em frente às câmeras, envolvendo idas a sexshops e inferninhos da pesada. Mas mesmo tendo sido feito vinte anos antes, Hardcore possui uma abordagem muito mais bem resolvida das relações entre pessoas “normais” e pornografia extrema.
O monstro Sagrado George C. Scott interpreta Jake VanDorn, um homem religioso e dono de um próspero negócio, que entra em desespero quando a filha Kristen (Ilah Davis, que só fez este filme) desaparece numa viagem a um acampamento de férias religioso. VanDorn contrata o detetive Andy Mast (Peter Boyle, ótimo), que descobre um rolo de filme pornô onde Kristen faz sexo com dois homens. Jake então se muda para Los Angeles e sai à caça da filha, entrando numa espiral de decadência o leva a uma quadrilha produtora de filmes snuff.
Paul Schrader nunca foi conhecido por ser bonzinho com os seus protagonistas, e poucas vezes isso foi tão claro como em Hardcore. O Jake VanDorn de George C. Scott tem muitas semelhanças com oTravis Bickle de Taxi Driver, escrito por Schrader, inclusive ao fazer amizade com uma jovem prostituta, Nikki (Season Hubley, ex-mulher de Kurt Russel), que faz com que ele se questione até que ponto ele próprio faz ou não parte daquele mundo. Em momento algum o roteiro tenta transformar Van Dorn em um herói de ação ou mostrá-lo de arma em punho eliminando os bandidos. A arrebatadora cena final deixa bem claro que não há heróis nessa trama, nem julgamentos fáceis. Há apenas a necessidade desesperada de um homem em se reencontrar com sua filha. O resto pode esperar.