Sinopse: Ano 2041. Um futuro próximo no qual os seres humanos vivem acompanhados de criaturas mecânicas. Álex (Daniel Brühl), um reputado engenheiro cibernético, retorna a Santa Irene com uma missão muito específica da Faculdade de Robótica: a criação de um menino robô. Durante dez anos de ausência, a vida seguiu seu curso para seu irmão David (Alberto Ammann) e para Lana (Marta Etura), que, depois da partida de Álex, refez sua vida. A rotina de Álex se verá alterada de forma casual e inesperada por Eva (Claudia Vega), a incrível filha de Lana e David, uma menina especial, de personalidade magnética, que desde o primeiro momento estabelece uma relação de cumplicidade com Álex.
O cinema da Espanha a cada dia nos revela um novo talento. Acabo de descobrir o talento de Kike Maíllo, garotão que nasceu em Barcelona em 1975, o mesmo ano da minha filha. Eva é seu primeiro longa, após ele ter feito dois curtas. Tem talento, o moço.
Eva é um filme de ficção de deixar os fãs de filmes de ficção embasbacados.
O cinema espanhol é muito impressionante. Quando o generalíssimo Francisco Franco morreu e sua ditadura caducou e caiu de podre, em meados dos anos 1970, só havia de importante Carlos Saura, o único grande realizador atuante. Buñuel não conta, porque foi sempre um realizador mais do mundo do que especificamente espanhol.
Depois que o fascismo caiu e a Espanha se redemocratizou, passaram a pipocar novos talentos. A lista é longa. Pedro Almodóvar mais que todos, é claro, mas também Alejandro Amenábar, Fernando León de Aranoa, Ventura Pons, Icíar Bollaín, Vicente Aranda, Eduard Cortés, Agustí Villaronga, Alex de la Iglesia, Oskar Santos, Daniel Sánchez Arévalo…
Agora, junta-se a esses nomes o de Kike Maíllo.
Ele passou pelo filme publicitário. É uma grande escola, o cinema publicitário. Nele, esse Kike Maíllo certamente desenvolveu o cuidado extremo com o visual, que é uma das coisas mais impressionantes de Eva.
Eva tem um visual estonteantemente belo.
Seu filme de estréia indica que o jovem realizador bebeu muito em Kubrick e Spielberg. Especificamente, em O Iluminado/The Shining (1980), A.I. – Inteligência Artificial (2001) e Minority Report (2002).
Toda a ação de Eva se passa num inverno pesado, gélido, com muita neve – exatamente como em O Iluminado. Há diversas tomadas feitas de helicóptero (ou que parecem ter sido feitas de helicóptero), de plongées de carros correndo em estradas cercadas por neve – exatamente como em O Iluminado.
De A.I. – sintomaticamente, um projeto que Stanley Kubrick queria tocar, e acabou sendo feito por Steven Spielberg –, há a própria idéia de criar uma inteligência artificial.
De Minority Report, o filme pegou muito do visual do que imaginamos que será o futuro.
Vi o filme sozinho – Mary trabalhava. Contei para ela a história, e disse que o visual do filme deixa o de Minority Report no chinelo. Sábia, sagaz, Mary lembrou que Minority Report antecipava coisas que na época não existiam; quando Spielberg fez esse seu filme, ainda não havia tela que respondia ao toque da mão – e o policial interpretado por Tom Cruise mexia em telas que reagiam ao toque de mão.
Eu não estava querendo dizer que Minority Report tem um visual velho, ultrapassado. De forma alguma. É um grande filme.
Só queria dizer que o visual deste filme espanhol é ainda mais impressionante.
Claro: de 2002, quando Spielberg fez seu brilhante filme passado no futuro, até 2011, quando o garotão espanhol Kime Maíllo fez este Eva, a computação gráfica se desenvolveu demais.
Não é questão de comparar um com outro. O fato é que o visual de Eva é extraordinário.
Quando Alex, o protagonista, aciona os elementos que vão formar o caráter do seu robô, e surgem na tela as características da personalidade, é uma absoluta maravilha.
Na segunda tomada, uma mulher cai num abismo
A primeira tomada mostra uma corrente de pescoço sobre a neve.
A segunda tomada mostra uma mulher segurando-se numa pedra, no alto de uma montanha. Ela não consegue mais se manter ali – e então despenca montanha abaixo.
Em seguida vemos uma garotinha de uns dez anos batendo na porta de uma casa. Um rapaz atende à porta, e grita: “Eva!” – e então a garotinha desmaia.
Em seguida temos aquele mesmo rapaz, que veremos se chama Alex Garel (e é interpretado pelo incansável Daniel Brühl, esse mezzo tedesco, mezzo catalão que parece fazer cinco filmes por ano), chegando de avião a uma cidade gelada. É recebido calorosamente pelo irmão, David (Alberto Ammann).
Veremos que Alex havia deixado sua cidade dez anos antes; mudara-se para a Austrália. Estava de volta ali pela primeira vez desde que saíra.
David sugere que Alex se hospede em sua casa, mas Alex diz, de maneira firme, que prefere ficar na casa que era de seus pais – eles já estão mortos, e a casa está vazia.
David deixa Alex na Faculdade de Robótica. Alex vai se encontrar primeiro com Julia (Anne Canovas), uma professora mais velha, que aparentemente havia sido sua instrutora no passado.
A faculdade quer que Alex, absoluto gênio em robótica, crie um menino robô perfeito
Não há aqueles letreiros informando ao espectador em que ano, em que lugar estamos. É um futuro próximo: praticamente tudo é bem parecido com a realidade de hoje, com a exceção de que a robótica desenvolveu-se muito. Há robôs de todos os tipos. O próprio Alex tem como companhia um gato robô.
O site oficial do filme esclarece que a ação se passa em 2041. Especifica também que a cidade em que a ação se passa é Santa Irene. No filme não há essas informações.
Veremos que Alex é um absoluto gênio da robótica. A veterana Julia, em nome da faculdade, arranjou a volta de Alex para que ele terminasse um trabalho que havia deixado inconcluso ao sair de sua terra, dez anos antes: criar um menino robô perfeito.
Alex quer que o cérebro de seu menino robô perfeito se inspire no de uma criança inteligente, esperta, bem humorada – uma criança bem especial.
Andando pelas ruas da cidade, descobre uma garotinha que parece ser exatamente aquilo que ele procurava. Chama-se Eva, a garotinha (interpretada por Claudia Vega, encantadora, uma maravilha – exatamente como a personagem).
O pai de Alex e de David havia sido também um cientista da área de robótica, e na velha casa agora vazia, desabitada, há um bom laboratório. Alex vai trabalhar ali. Mas a casa está suja, empoeirada. A faculdade manda para lá, para dar um jeito em tudo, Max, um robô extremamente qualificado.
O robô Max é interpretado – com brilho – por Lluís Homar. Lluís Homar e Daniel Brühl voltariam a trabalhar juntos no seguinte, 2012, em Tirando a Sorte Grande/The Pelayos; Homar faz o Pelayo pai e Brühl, o filho.
No segundo dia de Alex de volta à sua cidade, ele, conforme combinado, vai jantar na casa do irmão David. Chega a hesitar, antes de bater à porta. Vê-se que algo o incomoda. Mas ele entra, é bem recebido por David, pela mulher deste, Lana (Marta Etura).
O casal apresenta a Alex sua filhinha de dez anos – e é Eva!
Aos poucos, o filme vai revelando para o espectador que, no passado, Alex e Lana haviam trabalhado juntos. Ela também é da área de robótica; atualmente, só dá aulas, não participa mais de experiências, da criação de novos robôs.
Com mais um pouco de tempo, o espectador percebe que Alex e Lana foram apaixonados um pelo outro.
O filme tem a beleza e o talento de Marta Etura, e revela a garota Claudia Vega
Tudo em Eva é extremamente bem realizado. Os atores todos estão excelentes. O visual é fantástico.
Eva não se baseia em um livro – é um roteiro original, que parte de história criada para o filme por um grupo de quatro autores, Sergi Belbel, Cristina Clemente, Martí Roca e Aintza Serra.
Talvez as surpresas que são reveladas só quando a narrativa se aproxima do final não sejam tão surpreendentes assim. Talvez até se possa dizer que são fatos a rigor um tanto previsíveis. Mas não é um filme que procure no suspense seu principal impacto.
Me peguei, logo após o final do filme, tentando ver se não havia algum grande furo na história, na trama. Sim, talvez se possa argumentar que dez anos é um período de tempo longo demais, nesta época em que os desenvolvimentos tecnológicos são muito velozes; ao longo desse período, certamente outros pesquisadores já teriam criado o menino robô perfeito que Alex deixou inacabado. Mas isso aí é querer procurar pelo em ovo.
É um bom filme, e a trama se sustenta, sim.
Eva ganhou 15 prêmios, fora outras 28 indicações. Teve 12 indicações ao Goya, o prêmio mais importante do cinema espanhol, e ganhou em três categorias: melhor novo diretor, melhores efeitos especiais e melhor ator coadjuvante, para Lluís Homar (na foto). O robô Max feito pelo ator de fato é ótimo.
E há ainda o reencontro com a beleza e o talento dessa moça Marta Etura, que eu já havia visto em Azuloscurocasinegro (2006) – e a bela revelação de mais uma atriz criança que promete muito, essa Claudia Vega. A garotinha nasceu em Barcelona em 1999. Este aqui foi seu filme de estréia, e ela já completou mais dois.
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