EROTIC MAN - Reliquias em DVDs
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EROTIC MAN

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À primeira vista, logo na apresentação da sessão, Amir Labaki nos introduz a Jorgen Leth, o diretor dinamarquês. Simpático, falante, assume o filme como extremamente pessoal e desinteressado da crítica e público, mas um tanto curioso para responder às futuras perguntas. Não falou muito sobre o filme, apresentou seu filho musicista e autor da trilha e vamos lá.

Corpos nus. Corpos femininos nus de mulheres jovens do Brasil, Venezuela, Haiti, Filipinas, Laos... não vemos América do Norte nem Europa, um pouco de Paris, sutilmente... por mais que eu tentasse ver o filme sem a ótica clichê da exploração sexual nos países ‘subdesenvolvidos pelo colonizador’, foi quase impossível fugir disso. O filme é sensual, mas não erótico.

O que entendo como erotismo é uma definição que se completa com o mistério. O erotismo pode estar num olhar, num sorriso e mais do que tudo, no que não se vê. É justamente o que perdemos aqui. Todo o exibicionismo dos corpos nos deixa com uma sensação de vazio ao tempo que o objetivo do erótico se constrói apenas com as questões do protagonista-diretor, mas jamais com respostas. É como uma adolescência tardia, desvendar o erotismo com poses e nus. O objetivo não seria o contrário?

Assisti com um grupo de 4 rapazes latino americanos. Saímos do filme e comentando com o venezuelano, chegamos à conclusão de ser sobre um senhor de meia idade que resolve viajar para se divertir com jovens e lindas mulheres. A forma como a câmera as invade nos quartos de hotel torna tudo ainda mais estranho. Na seleção do elenco, ele as informa de que é um filme para reviver momentos do passado, romances antigos e que, com isso, elas irão sempre a um quarto de hotel se despir e ele vai filmar. Não teremos cenas de sexo. Durante o casting, vemos uma personagem que se diz atriz e ‘engole cobras’. Por mais inusitado que seja o fato na vida real, carregá-lo dentro de um filme com uma temática bacana, mas numa forma estranha deixa tudo um pouco pior.

Fui ao filme achando que encontraria algo diferente. Vi um filme do diretor ano passado e me chamou atenção sua desenvoltura com a linguagem, como surpreendia a cada nova investida do produtor. The 5 Obstructions é um filme incrível. Lars Von Trier impõe cada vez mais regras para fazer a mesma seqüência e Jorgen Leth consegue vencê-las com maestria. Entendi que novamente veria algo interessante.

Ainda nos testes de elenco, ele faz questão de informá-las que não haverá cenas de sexo. Uma mulher nua num quarto de hotel já não imprime sexo na tela? Os closes justamente nas partes 'sensuais’ do corpo não são um indício? Será essa provocação o objetivo final? Mais feliz seria o filme que vi há milênios, Uma Relação Pornográfica. Aqui uma mulher e um homem se encontram após responderem a um anúncio de jornal com o objetivo de realizar suas fantasias sexuais num quarto de hotel. É um filme belíssimo, inteligente, divertido e que mostra tudo o que precisamos ver. 

As cenas de Erotic Man realmente causam impacto e ele nos informa, enquanto ator e autor em sua obra, que pretende descobrir o homem erótico e tentar transpor o erotismo na tela, mas o que vemos são corpos em camas, com um texto poético que se repete talvez tentando imprimir algum sentido de conjunto. É a expressão do que parece ser o sonho, desejo, capricho ou fantasia do diretor, num filme feito para si, como nos alertou e de fato não passa disso. Em todas as cenas em que se apresenta, apenas questiona, mas nada responde. 

Da mesma forma como a estrutura do filme é de repetição da ação, tento não trazer isso para o texto e recordo a fotografia que remete ao passado, com uma névoa, uma imagem não tão limpa como nos acostumamos a ver – aí sim, um ponto positivo – e não muito mais. 

Duas cenas chamam atenção por motivos diferentes: uma rememora Acossado, quando uma negra – vestida – senta-se numa cadeira e se vê observada por um homem com um palito na boca. A troca de olhares, os óculos Ray ban do homem, os closes e seu palito; a expressão final o transforma no grande personagem de Godard, Michel Poiccard. A cena número dois é mais impactante, polêmica e ainda tento entender sua razão no filme. Vemos uma cerimônia religiosa – candomblé, umbanda ou alguma parecida – em que uma de nossas protagonistas está incorporando alguma entidade e se manifestando. A cena se desenvolve, vemos o protagonista-diretor distante e vendo tudo do alto numa varanda, acompanhando o transe crescente, ela dançando, se transformando, se movimentando numa forma cada vez mais insinuante, claramente ‘fora de si’,  exibindo seu corpo numa provocação, mais uma vez, sensual. Por que esta cena? O que se buscava com isso? 

Saí desconfiada, com um ‘sei não’ estampado no rosto. Uma parte de mim se sentia perdendo tempo com essa exibição e a outra, mais condescendente dizia que serviu para pensar, ainda que a estrutura do filme não se sustente. Vemos imagens, criamos conceitos com o filme, levantamos questões, saímos com ‘mulheres bonitas’, ‘países exóticos', ‘dinamarquês’, ‘belíssima fotografia’, na cabeça. Não digo que falta justificativa – porque esse não é a finalidade dos filmes – mas também não encontrei objetivo. Por fim, acho que a vaidade e o narcisismo foram além e os patrocinadores acreditaram em seu perfil de obstruções para confiar nesse novo 'sucesso'.

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