Uma jovem é beijada a força na rua, em plena luz do dia e diante do seu namorado, por um cara que ela nunca havia visto antes e ele se nega a pedir desculpas e é humilhado por isso, mas decide se vingar. Uma vingança nada comum... Arma um plano simples e assim a transforma em uma prostituta, mas... é isso o que ele realmente queria? Ficar vendo ela dormir com seus clientes através de um espelho em seu quarto? É pura vingança? É amor? É ódio pela maneira como ela o tratou ou apenas um bizarro fetiche?
LEGENDADO
Kim Ki-Duk é um diretor que parece sentir prazer em dividir opiniões pela natureza quase hermética de suas histórias, que apresentam uma lógica interna um tanto confusa, onde causa e efeito parecem trocar de lugar, dando nós em torno de si mesmos, e deixando o espectador atordoado no final de boa parte de seus filmes.
Não sou profundo conhecedor da obra do diretor, mas dos quatro filmes que assisti dele torna-se evidente sua fixação por personagens de poucas palavras, ou totalmente mudos; o papel que o silêncio têm em suas histórias; e sua obsessão por transformá-las em ciclos que se fecham, e remetem ao início da narrativa, ou a algum ponto anterior dela, gerando paradoxos onde é impossível precisar a causa primeira de determinado evento.
Em Bad Guy o paradoxo se esconde numa foto que Sun Hwa (Won Seo) encontra rasgada em pedaços na praia onde vai com Han-Ki (Jae-hyeon Jo). A confusão que se instala no espectador quando o mistério da foto é revelado pode ser sanada se levarmos em consideração a natureza da relação passivo-agressiva que se estabelece entre eles. A foto seria uma mera projeção do desejo desesperado da garota em reunir os cacos de sua vida, e dar algum sentido a ela.
O filme inteiro é sobre essa busca por algo desejado, embora por vias não convencionais. Sun Hwa perde sua liberdade e seu orgulho por menosprezar um homem que mal conhecida, o qual não mede esforços para demonstrar seu desejo de possuí-la através de gestos agressivos e compensadores de sua deficiência. Já Han-ki, com o orgulho ferido, arma um cruel plano de vingança para Sun Hwa. Ao mesmo tempo que alcança o que tanto desejava, não se permite provar da fruta que tanto ansiava, numa espécie de penitência que aplica a si mesmo, pois no fundo é consciente de sua própria crueldade.
Não demora muito para a história se converter num jogo de provocações erótico-agressivas, em que o caos sentimental, e as emoções em retalhos de ambos transforma seus mundos em uma torrente de violência e sexo movidos puramente por uma impulsividade represada.
Bad Guy é um drama de difícil assimilação, que foge do convencional, mostrando-se um tanto seco na progressão dos eventos, e propondo um enigma a seu espectador com a estranheza de seu final. Vale como um ótimo exercício de interpretação das intenções do diretor, mas mostra-se um tanto irregular em sua execução.